A química entre ciência e música

Ilustração: Natália Mikhailenko

Ilustração: Natália Mikhailenko

O compositor Aleksandr Borodin é responsável pela obra “O Príncipe Igor”, uma das melhores óperas russas. Mas ele também foi um renomado químico que levou toda a sua vida intercalando música e ciência.

Formado em medicina pela Academia Médica, Borodin mantinha contato próximo com o cientista que criou a tabela periódica de elementos, Dmitri Mendeleev, e outras mentes brilhantes da época. Aliás, o professor de Borodin foi o grande químico russo Nikolai Zinin, que também era tutor de Alfred Nobel.

“Sasha, ponha essas suas romanças de lado e faça qualquer coisa de sério”, diz Zinin sobre a preferência de Borodin pela música. Mas, apesar de seu entusiasmo pela cena musical, Borodin a tratou durante muito tempo como a uma ocupação secundária. Isso só foi mudar quando ele conheceu o compositor Modest Mussorgski no hospital em que trabalhava.

Mussorgski apresentou-o então ao círculo Mogutchaia Kutcha, que agrupava os melhores compositores da época, tais como Balakirev, Rimski-Korsakov e Cui. Sob sua influência, Borodin começou a se aprofundar cada vez mais na cultura nacional.

A apoteose da natureza eslava foi a sua “Primeira Sinfonia”. Depois dessa primeira sinfonia, veio a segunda, à qual Mussorgski intitulou de Eslava Heroica e posteriormente ficou conhecida como “A Segunda dos Bogatir”.

Durante as aulas e as experiências científicas ele escutava a música soando dentro da sua cabeça. E às vezes, a meio de uma conversa com Rimski-Korsakov, ele se levantava de repente e corria para o laboratório. Sua alma estava dividida.

Depois de duas sinfonias, Borodin passou para a ópera. Era uma ideia bastante arrojada e grandiosa: fazer uma ópera sobre o principal épico russo, “Conto da Campanha de Igor”. O trabalho se arrastou por 18 anos, período em Borodin estudou diversas fontes, crônicas e detalhes históricos.

Borodin morreu de modo inesperado. Era carnaval e ele havia organizado uma festa de máscaras em sua casa com muitos convidados. Todo mundo estava se divertindo, dançando, cantando e Borodin também se divertia e dançava. De repente, parou no meio de uma frase e caiu no chão. Tivera um infarto fulminante.

Na véspera, ele havia corrigido a partitura da sua terceira sinfonia e acrescentou umas coisas aos coros de “O Príncipe Igor”. Mais tarde, quando Rimski-Korsakov estava analisando os documentos, encontrou junto um relatório sobre a higiene e algumas fórmulas. No relatório estava desenhado um diapasão.

E foi justamente essa dualidade que acompanhou Borodin até o último minuto de sua vida. Um relatório sobre a higiene e um diapasão. E, apesar de tudo, o diapasão conseguiu superar, pois quando soam as Danças Polovetsianas do Príncipe Igor, a ciência não vem de modo algum à cabeça.

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