Modelo Dior em Moscou Foto: Getty Images / Fotobank
No final dos anos 1950, a URSS estava separada do Ocidente pela “cortina de ferro” e consumia exclusivamente o que o país produzia. A moda estrangeira não entrava. As mulheres, que se lembravam da revolução, acreditavam piamente que cuidar da aparência era uma caduquice do capitalismo. Usavam vestidos simples de cortes direitos, lenços atados sob o queixo e meias altas de algodão ou lã sem elastano, conforme a estação. Sapatos de verão se calçavam com meias curtas de algodão, para que os pés das trabalhadoras não ficassem com bolhas. Os homens, sobretudo os idosos, envergavam ternos largos, cinzentos ou castanho-escuros, e camisas, com ou sem manga, chamadas carinhosamente de “bóbotchka”.
As roupas eram poucas, mas limpas e passadas a ferro, já que a ideologia não contrariava o asseio. As donas de casa punham a ferver baldes e bacias com camisas brancas, roupa de cama e outros artigos têxteis, que depois tiravam, ainda quentes, com grandes pinças de madeira.
Foto: Getty Images / Fotobank
Claro que havia exceções, como em todas as regras. A minha bisavó, na altura com mais ou menos 40 anos, usava vestidos elegantes de padrões bonitos, que ela própria fazia, copiados de revistas de moda. Diga-se de passagem que poupava cada centímetro de tecido que comprava através de conhecidos.
Chegado o “degelo” nas relações com o Ocidente, a exploração do espaço e o entusiasmo suscitado pelo progresso técnico-científico,a vida social da URSS foi mudando. As pessoas queriam um cotidiano menos ascético e roupas mais alegres. As lojas começaram a vender artigos importados; quem sabia costurar, comprava revistas de moda estrangeiras, com moldes anexados.
Lojas vazias Foto: Corbis / FotoSA
O vestuário saía das fábricas têxteis do país, que produziam em regime maciço. Todas as peças de vestuário eram desenhadas pelas “casas de moda” estatais, rigorosamente em conformidade com os ideais comunistas, e costuradas em lotes enormes nas fábricas do país. Verdade se diga que, em sua generalidade, a roupa era de boa qualidade –se usava durante anos, passando de geração para geração. No entanto, o sortido nas lojas era muito escasso: um par de modelos de verão, outros tantos de inverno, sempre o mesmo tipo de luvas e de botas.
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A moda Soviética nos anos 1920As mulheres soviéticas receberam de braços abertos malas, cintos e luvas de pele, malhas e cosméticos, que começaram sendo importados dos países socialistas. O cúmulo do luxo eram as raras peças de roupa de fabricação italiana ou francesa, que custavam caro e se compravam quando se tinha certos conhecimentos nos estabelecimentos comerciais ou no mercado negro. É que a venda ambulante ou clandestina de artigos importados constituía crime e podia custar anos de prisão, com o confiso total dos bens. Além disso, era proibido trocar moeda estrangeira e usá-la no país. Especuladores ambulantes tinham várias maneiras de obter peças dos estrangeiros que visitavam o país: uns, dando em troca artesanato soviético; outros, bilhetes para o teatro; terceiros, “em sinal de eterna amizade”, após umas garrafas bebidas em conjunto.
Foto: Getty Images / Fotobank
O desejo de aparentar bem era mais forte do que a escassez. A vida dos outros países se tornou mais familiar, pois a televisão começou a transmitir filmes estrangeiros e notícias do mundo. Em 1957, em Moscou, foi realizado o 1º Festival Internacional da Juventude e dos Estudantes, que atraiu muitos estrangeiros. Além disso, quem trabalhava na área de esporte e cinema foi autorizado a viajar para o estrangeiro, de onde trazia peças de vestuário para familiares e amigos.
Foto: Getty Images / Fotobank
Apesar de todas estas dificuldades, muitos russos recordam os anos 1960 com certa nostalgia. Atualmente, se usam calções e collants grossos em todo o mundo, como usavam crianças soviéticas daquela altura, e os “vestidos das avós” são hoje o último grito de moda.
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