O Teatro Bolshoi foi abalado por intrigas este ano Foto: Press Photo
As mudanças culturais no país, iniciadas informalmente há um ano, em pequenas livrarias, clubes e com palestras espontâneas e nas ruas, prosseguiram este ano já em nível oficial.
Houve mudanças de administração em dezenas de estabelecimentos acadêmicos. Marina Lochak, curadora de arte contemporânea, por exemplo, substituiu Irina Antonova, que esteve à frente do Museu Estatal Púchkin de Belas Artes durante várias décadas. Este foi o exemplo mais gritante de mudança.
Já o moderno Centro Gogol, criado pelo encenador Kiril Serébriannikov com base no clássico Teatro Gogol, finalmente desenvolveu a sério sua atividade. A atual vida teatral há muito deixou de girar em volta de teatros acadêmicos, como o MKhAT (Teatro de Arte) ou o Teatro Mali. O Teatr.doc e Teatro Praktika, que antes trabalhavam com peças vanguardistas recorrendo a modernas técnicas teatrais, como “verbatim”, já não escandalizam ninguém, ocupando seu devido lugar na vida cultural de Moscou.
Teatro Bolshoi
O Teatro Bolshoi foi abalado por intrigas este ano. O bailarino Nikolai Tsiskaridze, estrela mundial, foi despedido por ter se defendido de ataques de seus rivais. Serguêi Filin, o diretor artístico do balé, um dos adversários de Tsiskaridze, foi vítima de um ataque com ácido, que lhe queimou o rosto. Pavel Dmitritchenko, solista do grupo de balé, foi detido como suspeito do atentado a Filin. Há pouco, foi condenado a seis anos de prisão. O próprio Filin substituiu a primeira bailarina, Svetlana Zakhárova, na estreia de “Evgueni Oneguin”, no papel de Tatiana. A queixa de Zakhárova ao chefe de Estado teve como desfecho a demissão do diretor do teatro, Anatóli Iksanov. Há pouco, a dançarina estadunidense Joy Womack, que se demitiu do Bolshoi, acusou Filin e quem o rodeia de receberem subornos na distribuição dos papéis principais nos espetáculos de bailado.
Estes escândalos refletem uma profunda crise administrativa. É pouco provável que, em tais condições, o mais importante teatro do país consiga assegurar uma atividade artística normal.
No Teatro Estatal Acadêmico Mariinski, de São Petersburgo, que em maio deste ano inaugurou o tão esperado Segundo Palco, a vida decorre bem mais tranquila.
Artnights
Inovadores do Departamento de Cultura de Moscou se empenham em integrar a capital da Rússia no processo cultural do mundo. Uma das frentes se volta para a reconstrução dos parques moscovitas em conformidade com padrões mundiais e para a criação de zonas de pedestres no centro da cidade. Eventos culturais noturnos como a “Noite Museológica”, a “Noite Bibliotecária”, a “Noite da Música” e a “Noite de Artes” também contribuem para isso. O objetivo essencial é cativar os cidadãos para iniciativas originais e popularizar a cultura.
Museu de Fabergé em São Petersburgo
O oligarca russo Viktor Vekselberg inaugurou em São Petersburgo o museu particular Fabergé. Sediado no luxuoso palácio dos Chuvalov, na margem do rio Fontanka, o museu abriga cerca de 4.000 peças. Além da ourivesaria de Carl Fabergé, incluindo uma coleção dos famosos ovos de Páscoa, estão expostos trabalhos de outros ourives russos, bem como pinturas de Vladímir Makovski, Ivan Aivazovski, Karl Briullov, Konstantin Korovin, Perre-Auguste Renoir.
Exposição “Rússia Ortodoxa. Dinastia dos Romanov”
No Manege de Moscou, a principal sala de exposições do país, esteve aberta uma exposição dedicada aos 400 anos da casa dos Romanov. Mais do que sua envergadura, impressiona o interesse que ele suscitou: o público passou horas na fila para admirar a exposição. Na opinião de especialistas, quando se verifica uma sucessão de ideologias, ou seja, acabado o comunismo e não inventado ainda o neocapitalismo, muitas pessoas se identificam com a monarquia e a religião, algo que está totalmente relacionado com a Rússia.
“É Difícil Ser um Deus” – “Stalingrado” – “Boda”
São estes os três filmes mais marcantes do ano.
Aleksêi Guerman, realizador consagrado, levou dez anos a rodar “É Difícil Ser um Deus”, uma antiutopia, filme pesado, naturalista e de difícil entendimento. O realizador faleceu no princípio do ano, motivo pelo qual o filme foi terminado por seu filho homônimo, também realizador. A estreia foi em novembro, durante o Festival de Cinema de Roma. Ainda não passou nas salas da Rússia. A maior parte da crítica o acolheu com reserva. Apenas Umberto Eco o achou excelente: “Depois deste filme, os de Tarantino parecem animações da Disney”, comentou o escritor.
“Stalingrado”, de Fiódor Bondarchuk, tem por tema central um dos combates mais decisivos da Segunda Guerra Mundial. A película é situacionista ao extremo, patriótica e custou muito caro. Mas o que é importante, foi lucrativa. O investimento foi recuperado nos primeiros 11 dias de exibição. Já a crítica foi desfavorável –Umberto Eco nada escreveu sobre o filme, mas o povo o procura.
Foto: kinopoisk.ru
“Boda”, um filme barato, que mostra uma grande bebedeira em um casamento, teve uma estreia muito comentada, quando nada o fazia prever. Jora Krijóvnikov, um realizador desconhecido, rodou este filme tendo como protagonista um famoso comediante televisivo. Inesperadamente o filme acertou em cheio no inconsciente coletivo, se tornando incrivelmente popular.
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