“Ideia sobre as Pussy Riot é errada”, diz diretor de filme sobre o grupo

No documentário sobre as Pussy Riot, é apresentada a preocupação dos pais das moças e seus advogados Foto: ITAR-TASS

No documentário sobre as Pussy Riot, é apresentada a preocupação dos pais das moças e seus advogados Foto: ITAR-TASS

Pré-selecionado para concorrer ao Oscar 2014, documentário apresenta depoimentos contrastantes sobre a atuação da banda. Codiretor de “Pussy Riot: A Punk Prayer” também lançou recentemente o filme “The Notorious Mr. Bout”, que retrata a história do traficante de armas russo condenado nos EUA.

“Tanto na Rússia, quanto no Ocidente as integrantes do Pussy Riot foram retratadas erroneamente”, diz Maksim Pozdoróvkin, codiretor do documentário “Pussy Riot: A Punk Prayer”. “Na Rússia, elas foram mostradas na TV como vândalas que odeiam a religião. No Ocidente, foi mostrado que tudo aconteceu apenas porque cantaram uma canção contra Pútin no principal templo do país e depois receberam uma pena de três anos. Queria mostrar que é tudo mais complexo.”

No documentário sobre as Pussy Riot, é apresentada a preocupação dos pais das moças e seus advogados, bem como a visão de cristãos fundamentalistas, que enxergam uma conspiração das forças obscuras como se quisessem exorcizar o demônio das garotas.

Ao desenvolver a história da banda, percebe-se, contudo, que a performance na catedral em si  não trouxe nenhuma mensagem especial para o mundo. “O caso ganhou ressonância e significado graças ao Estado e à sociedade e, se não tivessem acontecido a prisão e os escândalos que rodearam o processo, o acontecimento teria sido esquecido em um mês”, defendem os autores do documentário.

Mike Lerner, coautor britânico de Pozdoróvkin, acredita que o fato seja importante como uma luta contra o atual regime de Pútin. “A situação das Pussy Riot dá uma visão muito precisa sobre a natureza do regime e do abuso de poder na Rússia”, diz. “Infelizmente, há outros exemplos de como o Estado tem abusado dos direitos humanos e como continua a fermentar a intolerância e a discórdia entre o povo russo para sua própria vantagem política.”

Apesar de criticar o sistema político na Rússia, Lerner reconhece que o problema se estende a outras regiões do mundo, inclusive ao próprio Reino Unido. “É por isso que o resto do mundo deve se mobilizar em torno das Pussy Riot, como um antídoto contra a intolerância e para simbolizá-las como campeãs da justiça social”, justifica.

Raio-X: Maksim Pozdoróvkin

Aos 11 anos de idade, Pozdoróvkin partiu de Moscou a Nova York juntamente com a sua família. Estudou nas universidades de Cornell e Harvard, onde defendeu a tese de PhD "Khronika: Newsreal Soviético no Alvorecer da Era da Informação". Lecionou História do Cinema em diversos institutos e dirigiu os documentários “Capital”, “Riot: A Punk Prayer” e “The Notorious Mr. Bout”.

Pozdorovkin acrescenta, contudo, que, para atingir tal objetivo, foi necessário passar por um processo de desconstrução da mídia. “Tenho certeza de que se é para fazer filmes políticos, então devemos produzir filmes sobre a mídia, porque é precisamente ela que está moldando a nossa realidade”, aponta o diretor.

Cena política

Paralelamente ao documentário sobre as Pussy Riot, Pozdoróvkin produziu “The Notorious Sr. Bout”, em parceria com o diretor americano Tony Gerberom. O filme apresenta a história do traficante de armas Viktor Bout, que foi condenado a 25 anos de prisão nos EUA.

“Víktor contou que queria ser documentarista e sonhava em fazer filmes no estilo da National Geographic. Cerca de 80% do meu filme foi feito com os materiais das filmagens que Víktor Bout fez a respeito dele mesmo, e a esse material é que foi acrescentada a história de sua prisão”, conta Pozdoróvkin.

Assim como no caso das Pussy Riot, o diretor alega que todos os envolvidos estavam tentando se promover para fins políticos. “A mesma situação ocorreu com Víktor Bout. No nosso filme um dos personagens diz: ‘Está se tornando cada vez mais difícil dizer alguma coisa sobre Víktor Bout sem cair no mais simples confronto ideológico entre dois países’”, diz. “E eu não estou satisfeito com a privatização dessas ideias nem com o papel que o Estado desempenha nisso.”

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