No documentário sobre as Pussy Riot, é apresentada a preocupação dos pais das moças e seus advogados Foto: ITAR-TASS
“Tanto na Rússia, quanto no Ocidente as integrantes do Pussy Riot foram retratadas erroneamente”, diz Maksim Pozdoróvkin, codiretor do documentário “Pussy Riot: A Punk Prayer”. “Na Rússia, elas foram mostradas na TV como vândalas que odeiam a religião. No Ocidente, foi mostrado que tudo aconteceu apenas porque cantaram uma canção contra Pútin no principal templo do país e depois receberam uma pena de três anos. Queria mostrar que é tudo mais complexo.”
No documentário sobre as Pussy Riot, é apresentada a preocupação dos pais das moças e seus advogados, bem como a visão de cristãos fundamentalistas, que enxergam uma conspiração das forças obscuras como se quisessem exorcizar o demônio das garotas.
Ao desenvolver a história da banda, percebe-se, contudo, que a performance na catedral em si não trouxe nenhuma mensagem especial para o mundo. “O caso ganhou ressonância e significado graças ao Estado e à sociedade e, se não tivessem acontecido a prisão e os escândalos que rodearam o processo, o acontecimento teria sido esquecido em um mês”, defendem os autores do documentário.
Mike Lerner, coautor britânico de Pozdoróvkin, acredita que o fato seja importante como uma luta contra o atual regime de Pútin. “A situação das Pussy Riot dá uma visão muito precisa sobre a natureza do regime e do abuso de poder na Rússia”, diz. “Infelizmente, há outros exemplos de como o Estado tem abusado dos direitos humanos e como continua a fermentar a intolerância e a discórdia entre o povo russo para sua própria vantagem política.”
Apesar de criticar o sistema político na Rússia, Lerner reconhece que o problema se estende a outras regiões do mundo, inclusive ao próprio Reino Unido. “É por isso que o resto do mundo deve se mobilizar em torno das Pussy Riot, como um antídoto contra a intolerância e para simbolizá-las como campeãs da justiça social”, justifica.
Raio-X: Maksim Pozdoróvkin
Aos 11 anos de idade, Pozdoróvkin partiu de Moscou a Nova York juntamente com a sua família. Estudou nas universidades de Cornell e Harvard, onde defendeu a tese de PhD "Khronika: Newsreal Soviético no Alvorecer da Era da Informação". Lecionou História do Cinema em diversos institutos e dirigiu os documentários “Capital”, “Riot: A Punk Prayer” e “The Notorious Mr. Bout”.
Pozdorovkin acrescenta, contudo, que, para atingir tal objetivo, foi necessário passar por um processo de desconstrução da mídia. “Tenho certeza de que se é para fazer filmes políticos, então devemos produzir filmes sobre a mídia, porque é precisamente ela que está moldando a nossa realidade”, aponta o diretor.
Cena política
Paralelamente ao documentário sobre as Pussy Riot, Pozdoróvkin produziu “The Notorious Sr. Bout”, em parceria com o diretor americano Tony Gerberom. O filme apresenta a história do traficante de armas Viktor Bout, que foi condenado a 25 anos de prisão nos EUA.
“Víktor contou que queria ser documentarista e sonhava em fazer filmes no estilo da National Geographic. Cerca de 80% do meu filme foi feito com os materiais das filmagens que Víktor Bout fez a respeito dele mesmo, e a esse material é que foi acrescentada a história de sua prisão”, conta Pozdoróvkin.
Assim como no caso das Pussy Riot, o diretor alega que todos os envolvidos estavam tentando se promover para fins políticos. “A mesma situação ocorreu com Víktor Bout. No nosso filme um dos personagens diz: ‘Está se tornando cada vez mais difícil dizer alguma coisa sobre Víktor Bout sem cair no mais simples confronto ideológico entre dois países’”, diz. “E eu não estou satisfeito com a privatização dessas ideias nem com o papel que o Estado desempenha nisso.”
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