O futuro que morreu com Stolypin

Reforma agrária promovida por Stolypin não agradou setores da sociedade na época Foto: wikipedia.org

Reforma agrária promovida por Stolypin não agradou setores da sociedade na época Foto: wikipedia.org

País inteiro odiava o premiê que poderia ter tornado a Rússia uma potência europeia e prevenido muitas das catástrofes do século 20.

Nascido na Alemanha, Piotr Stolypin (1862-1911) era um reformista que trabalhava horas a fio. Embora transpusesse a imagem de homem imponente ao exercer o cargo de primeiro-ministro da Rússia tsarista, prezava por sua família acima de tudo.

Quando a revolução teve início em 1905, ainda era governador de Saratov. Stolypin viajava desarmado e sem proteção pelos distritos em revolta. Em uma de suas viagens jogaram uma bomba em seus pés. As pessoas ao seu redor morreram, mas ele sobreviveu. Daquele momento, sobraram duas fotos: o governador ameaçado com punhos e varas por rebeldes; e a segunda, deles mesmos, de joelhos, pedindo-lhe perdão.

Primeiro foi nomeado ministro do Interior, e depois, premiê. Nesse período, foi o único homem capaz de lidar com os problemas do país, já que até mesmo o tsar demonstrava pouca força de vontade. Enquanto os burocratas só pensavam em seu próprio interesse, os políticos da Duma discutiam até ficarem roucos – mas nada podiam fazer.

A situação era complexa. Havia pouco que a Rússia, vergonhosamente, perdera a guerra contra o Japão. Uma crise política substituía outra. Nas cidades havia incêndios e tumultos. Com uma grande quantidade de dinamite, a datcha de Stolypin ficou em pedacinhos. Foram feridas as filhas do ministro, e mortos trinta pessoas entre servos e visitas. A explosão foi de tal monta que voaram vidros no prédio que se localizava do outro lado do rio. Quando o tsar ofereceu dinheiro a Stolypin para tratamento de suas filhas, ele respondeu: "Sua Alteza, eu não vendo sangue dos meus filhos".

Ele iniciou sua atividade com a implantação de cortes marciais de campo e o anúncio de reforma agrária. Ou seja, deu terra aos camponeses. Exatamente isso Lênin prometeu ao povo em 1917. Mas Lênin não cumpriu sua promessa, enquanto Stolypin cumpriu. Ele entendeu que se fizesse do camponês dono da terra reduziria o risco de revolução. Apostou em uma economia liberal e em um poder estatal fortalecido. A reforma de Stolypin daria aos camponeses o que a revogação da servidão não havia dado lá em 1861.

Ele queria fazer da Rússia comunal uma Rússia agrária – como os Estados Unidos, os Países Bálticos e quase todos os países ocidentais. Nesses países, o fazendeiro era a base da economia agrária do país. Isso provocou até mesmo a indignação de Tolstói. “Pare com sua terrível atividade! Chega de olhar para Europa, é hora de pensar com a própria cabeça!", disse o escritor.

No fim das contas, a transformação para melhor foi feita pelo derramamento de sangue. Por ordem das cortes marciais de Stolypin foram punidos mais de mil terroristas. “Eu peguei a revolução pela garganta e terminarei por estrangulá-la, se eu mesmo permanecer vivo”, disse em uma entrevista.

Mas a reforma emperrou, já que os latifundiários temiam por suas posses. Os socialistas, por sua vez, entendiam que se a reforma obtivesse êxito, eles perderiam o apoio do povo. E o povo também não se empenhava por possuir terras. Era necessário levar à força os novos proprietários às suas posses nos célebres vagões de Stolypin. Apesar de tudo, os resultados eram evidentes. Antes da Primeira Guerra Mundial, a Rússia era um país que prosperava em todos os indicativos econômicos.

É uma pena que Stolypin não tenha vivido para colher os frutos. Todos sabiam que o matariam – inclusive, ele mesmo e o departamento de vigilância. Tudo aconteceu na ópera “O conto do tsar Saltan”, de Rimsky-Korsakov. Depois do famoso “voo do abelhão”, um rapaz se aproximou de Stolypin e desferiu dois tiros. O ministro desabotoou a sobrecasaca, viu seu colete ensopado de sangue, abaixou-se à poltrona e disse: “Feliz em morrer pelo tsar”.

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