Ilustração: Niiaz Karim
Reza a lenda que no século 10 o príncipe Vladímir, governador da Rússia, procurando uma religião para o seu povo, escolheu o cristianismo, que tolera o consumo de álcool, recusando o Islã, que exige sobriedade, e comentou: “A Rússia se alegra bebendo, viver sem isso não podendo”.
No século 15, os eslavos aprenderam a produzir chamado “vinho de pão”, como era denominada a vodca naquela altura, há mais de quinhentos anos considerada a bebida nacional russa.
O recipiente mais popular de vodca é uma garrafa de meio litro, “pol-litra” em russo. É uma das denominações de vodca. Para bebidas alcoólicas em geral usa-se a palavra “vípivka” –na gíria, “bukhló” ou “kir”–, sendo muito populares os verbos “bukhát” e “kiriát” (algo parecido com gramar e sorver). Em dicionários de língua russa estão indicadas algumas dezenas de verbos para o consumo de bebidas alcoólicas. Animadores de casamentos russos divertem os convidados com concursos em que ganha quem se lembrar de mais sinônimos.
Nos tempos soviéticos, além da vodca, era muito procurado, sobretudo entre os estudantes, uma barata imitação licorosa chamada “portvein” (vinho do Porto). Levava a alcunha de “bormotukha”, do verbo “bormotát” (murmurar), devido ao forte efeito que afrouxa a fala.
As bebedeiras são retratadas em vários filmes do período soviético. Na película de guerra “O Destino de um Homem”, dos final dos anos 1950, um preso russo espanta oficiais alemães bebendo, um atrás do outro, três grandes copos de vodca em jejum, assegurando que “o soldado russo bebe sem comer o primeiro copo, e o segundo também”.
“A Ironia do Destino”, dos meados dos anos 70, transmitido na TV há décadas sem falta na noite de 31 de dezembro, é considerado o filme de culto neste aspecto.
Apesar de serem romantizadas, as bebedeiras constituíam um grave problema social na URSS. Foi por isso que, chegando ao poder em 1985, Mikhail Gorbatchov tomou logo medidas para limitar o consumo de álcool, no que chegou a ser chamada de “Lei Seca”, apesar de não ter ocorrido a proibição total. A cinematografia foi uma das vítimas da campanha: dos filmes eram cortadas as cenas com pessoas alcoolizadas.
A partir do ano 1991, a Rússia foi envolvida em mais uma onda de alcoolização: balcões de venda das bebidas se encheram da bebida importada Royal em garrafas de litro; na televisão, mesmo no horário nobre, os anúncios publicitários falavam da vodca Smirnoff, Rasputin e, por mais paradoxal que fosse, Gorbatchov.
Hoje em dia, a situação é melhor: nos supermercados, há dezenas (se não centenas) de marcas de bebidas de qualidade, que já não provocam nenhum alvoroço doentio.
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