Clubes histórico-militares não para de crescer na Rússia desde os anos 1980 Foto: ITAR-TASS
Há dezenas de clubes desse tipo espalhados por todo o país. Cada um deles possui centenas de associados disciplinados, conhecedores de temas militares, conseguem se orientar geograficamente muito bem e conhecem em primeira mão o que significa marcha e reagrupamento de forças. Não se trata de milícias secretas, mas de reconstrutores históricos – pessoas que em seu tempo livre recriam as batalhas de tempos passados com um realismo surpreendente. E agora elas têm o seu próprio espaço em Moscou.
São 106 hectares de terra destinados à reconstrução de acontecimentos históricos no parque temático “História Viva”, em Rumiántsevo, região recentemente anexada à capital. Em seu território, está programada a construção de um verdadeiro cenário com casas, castelos, trincheiras, valas e aterros – tudo para recriar as ações militares. Para os visitantes, também haverá instalações modernas, como estacionamentos, hotéis, lojas, cafés e até mesmo um parque aquático.
“Estamos prontos para apoiar empreendimentos culturais”, diz Vladímir Jídkin, chefe do departamento de desenvolvimento das novas regiões de Moscou. O departamento coordena as propostas dos proprietários dos terrenos em relação a futuros parques, desde a construção de uma “Disneylândia russa”, com base nos contos eslavos tradicionais, até pistas de esqui que funcionariam o ano inteiro. “Poucos são os pedidos de construção de casas apenas para habitação, são precisos centros de atracão que permitam às pessoas trabalharem e descansarem perto de suas casas.”
A inauguração do parque está prevista apenas para 2018, mas o local já acolheu o seu primeiro evento em agosto passado. O festival “Slobodá de Streltsi” (Slobodá: comunidade de homens livres; Streltsi: arqueiros russos) foi organizado pela Sociedade Histórico-Militar Russa e contou com 700 participantes especializados no chamado “período conturbado” do século 17.
“O objetivo dos grandes eventos organizados por reconstrutores históricos para entretenimento das pessoas é, por um lado, medir forças e saber quem são os melhores, os exércitos mais corretos e bonitos de se ver, e, por outro lado, atrair as pessoas para o seu movimento”, explica o fundador do clube histórico-militar “Chatun”, Aleksêi Nóvikov, que participou do “Slobodá de Streltsi”.
Ao contrário da vizinha Ucrânia, onde já existe o parque temático “Kievskaia Rus”, a Rússia terá, pela primeira vez na história, um local permanente para reconstrução de fatos históricos. “O História Viva será um local muito interessante, pois será possível criar toda uma linha de turismo de eventos, recriar diversos acontecimentos históricos mensalmente e mudar de temática todo ano”, acrescenta Nóvikov.
Tendência internacional
Em países onde há castelos antigos, como França, Inglaterra, Espanha, Alemanha, Irlanda e Suíça, entre outros, as chamadas “ações medievais” são eventos comuns.
As abordagens sérias aos acontecimentos históricos por parte da Federação Britânica de Competições de Cavaleiros e o clube suíço Regimento de São Jorge, assim como as primeiras reconstruções das batalhas napoleônicas na França, dirigidas pelo professor de História e Direito da Sorbonne, gozam de particular respeito.
Nos EUA, em vez de clubes individuais, surgiu nos anos 1960 uma organização chamada SCA (sigla em inglês para “Sociedade do Anacronismo Criativo”), que tem cerca de 40 mil associados e é composta por equipes que disputam entre si.
Quanto à Rússia, até a década 80 do século passado, as reconstruções de batalhas históricas eram apenas hobby de alguns fanáticos excêntrico por história, mas com o tempo foram saindo da clandestinidade. O número de clubes histórico-militares não para de crescer no país e a construção do “História Viva” é prova de que as autoridades locais estão claramente incentivando esse tipo de passatempo.
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