Museu oferecerá muitas cartas, notas, apontamentos de Iéltsin dos tempos de estudante (do arquivo de família) Foto: PhotoXPress
Há cerca de um ano está em construção um edifício na rua Iéltsin, n.º 3, no centro de Iekaterinburgo, a principal cidade dos Urais. Os habitantes da cidade sabem perfeitamente que no local cercado, onde anteriormente havia um centro comercial, está sendo erguido o Centro Presidencial Boris Iéltsin. Muitos deles têm a sua cota na criação da exposição, entregando ao futuro museu “artefatos da história contemporânea”. Entre eles, senhas de racionamento da época de filas e déficit nas lojas.
Nos anos 1980, só era possível comprar algo para comer na Rússia, mesmo produtos muito simples como cereais, açúcar e manteiga, com estes papeis acinzentados. As pessoas entregam também velhas fotografias, jornais e revistas, folhetos e cartazes do período de 1991 a 1996, altura em que o então primeiro presidente da Rússia se deslocava até sua cidade natal em busca de apoio durante as campanhas eleitorais.
A empresa de Ralph Appelbaum, de Nova York, ganhou o concurso público para a participação na criação do museu. É a mesma que já organizou várias bibliotecas presidenciais nos EUA, como a de Bill Clinton, bem como o Museu Judeu em Moscou. A empresa trabalha com um grupo de arquitetos, arquivistas e engenheiros russos, encabeçado por famoso realizador Pavel Lunguín.
Iéltsin foi o primeiro presidente democraticamente eleito em votação direta e universal na Rússia. Os anos 1990, tempo de Iéltsin, se caracterizaram por terremotos políticos e alterações do modo de vida. Foi então que o país, superando crises, ora políticas, ora econômicas, avançou penosamente do passado soviético para a democracia e a economia de mercado. Essa década continua a ser analisada de maneiras muito distintas.
O grupo que organiza a exposição tem como missão montar uma mostra consagrada à Rússia do século 20, a começar pela Primeira Guerra Mundial. A sala Labirinto da História da Rússia contém documentos apavorantes do grande terror dos anos 1930, filmes e fotografias de guerra e cartazes de manifestações da década dos 1980 para exigir o fim do monopólio comunista do poder. A exposição intitulada “Sete Dias”, relacionada com a época de Iéltsin, relata o que ocorreu desde a sua primeira intervenção rebelde no Kremlin, na sessão solene dedicada ao 70º aniversário do Poder Soviético, até sua demissão por vontade própria, a 31 de dezembro de 1999.
Uma seção especial aborda as liberdades conquistadas na época de Iéltsin e a primeira Constituição, que lançou os fundamentos da sociedade democrática na Rússia. Essas salas oferecem-nos muitas surpresas, com achados dos historiadores, como cartas, notas, apontamentos de Iéltsin dos tempos de estudante (do arquivo de família), originais de documentos únicos, como o primeiro exemplar do Tratado da União, que devia ter sido assinado em 20 de agosto de 1991. No entanto, a 19 de agosto, deu-se a tentativa de golpe, e a URSS se desintegrou.
Segundo o grupo criador, o Centro Presidencial englobará não só o museu de história contemporânea, exposição dedicada à personalidade e à época de Boris Iéltsin e exposições móveis, mas incluirá centros de criatividade infantil e de iniciativas sociais, salas de concertos, palestras e debates e conferências sobre os problemas da Rússia de hoje. O Centro Presidencial tem uma tarefa bastante complexa: integrar-se no contexto da vida atual de uma grande cidade e, simultaneamente, conviver com o passado.
Talvez o mais importante seja que o centro de Iéltsin esteja apostando, antes de mais nada, na nova geração, que nasceu nos anos 1990. Eles sabem pouco ou nada desse período, confundem datas e nomes, contentam-se com mitos e clichês que ouvem dos adultos. Muitas vezes, ninguém está a seu lado para contar o que aconteceu realmente, e por que razão. É um problema que se coloca, entre outros, ao novo centro.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: