O Grande Baile, no Salão Nicolaevski do Palácio de Inverno, abria a temporada de bailes Foto: Maria Afónina
O primeiro baile na Rússia foi realizado no século 17, no casamento do Falso Dimitri e Marina Mnishek, mas os bailes só entraram na vida da nobreza russa em 1717, com a criação das assembleias pelo decreto de Pedro I. Os bailes por classes eram promovidos não somente por nobres mas por associações comerciais e comunidades. Mais tarde, no final do século 19 e início do século 20, a característica de classe passou para o segundo plano, e os bailes públicos começaram a ser realizados por categoria de profissão, por exemplo, por companhias de teatro, artistas ou arquitetos.
A palavra “baile” na língua russa surgiu no século 18 derivada da palavra francesa “bal”. Enquanto os jovens se divertiam dançando, a geração mais velha ficava discutindo notícias políticas ou jogavam cartas. Na virada dos séculos 19 e 20, os bailes foram enriquecidos com concertos, convidados intérpretes de ópera e dançarinos de balé. Havia também os bailes-loteria, cuja receita era doada para ajudar os pobres.
A temporada de bailes iniciava-se no final do outono e durava até a primavera; especialmente estrondosos eram os bailes durante a Máslenitsa [Carnaval antes da Grande Quaresma]. Também havia diversão nos bailes durante o verão, exceto nos períodos da Quaresma. O sucesso da temporada de bailes era avaliado não só pelo luxo das recepções e dos vestidos, mas pelo número de casais que ficavam noivos.
Em São Petersburgo, havia lugares favoritos para bailes da corte. No Salão Nicolaevsky do Palácio de Inverno realizavam o Grande Baile, que abria a temporada de bailes; os bailes “pequenos” e “médios” eram organizados no Hermitage, no Palácio de Anichkov; no verão os convidados eram chamados para os palácios de Peterhof ou do Tsarskoye Selo.
Apesar do luxo dos bailes, conforme palavras do primo de Nicolau II, o Grão-Duque Alexander Mikhailovich (1866-1933), seus custos eram insignificantes: “não era necessário fazer compras especiais, ou contratar a ajuda de empregados adicionais. O vinho era trazido pela administração das propriedades, as flores – das inúmeras estufas do palácio; a orquestra era mantida em caráter permanente pelo Ministério do Palácio”.
Preparativos para o baile
Antes do baile vinham os convites, pequenos e elegantes, muitas vezes desenhados pelos melhores artistas.
Leque aberto e a dama se abana com ele – “sou casada”
Leque fechado - “o senhor é indiferente para mim”
Leque com somente um gomo aberto – “contente-se com a minha amizade”
Leque totalmente aberto – “eu o admiro”
As damas preparavam-se para a baile, estudando as revistas da época. A moda para os vestidos mudava, mas os leques permaneceram como um importante acessório de uma dama. Eles não só serviam para abanar durante ou depois da dança, mas também atraiam a atenção dos cavaleiros.
As flores também sempre complementavam o traje de baile: elas decoravam os penteados, os corseletes e as saias dos vestidos, ou simplesmente eram seguradas nas mãos. Nos séculos 18 e 19 eram fixadas joias em forma de vasos pequenos no vestidos para buquês de flores artificiais.
Bailes famosos
Especialmente luxuosos eram os bailes de coroação, a começar pelo de Catarina II. Muitas vezes esses bailes eram alternados com recepções nas residências de embaixadores estrangeiros, por exemplo, inglêses e francêses. Durante a coroação de Nicolau I, em 1826 por exemplo, foi realizado o baile na residência do embaixador francês, Marechal Marmon, Duque Raguzskiy e na do embaixador inglês, o Duque de Devonshire.
Em 1903, houve o famoso baile à fantasia no Palácio de Inverno, à la russe, onde todos os convidados estavam vestidos com trajes da época do tsar Alexei Mikhailovich. Alguns participantes copiaram as vestimentas de seus antepassados, de retratos em trajes antigos, e muitas damas vestiram roupas da antiga Rússia, túnicas e enfeites antigos nas cabeças, que lembravam os kokoshniki.
O último baile suntuoso foi o de 1913, realizado nos salões da Assembleia da Nobreza em 23 de fevereiro, em honra dos 300 anos da dinastia Romanov. De acordo com as memórias do Conde Kokovtsev, que chefiava o governo imperial, essas festividades deixaram poucos vestígios. “Seja por que não houve um ânimo real, seja por que realmente havia um medo consciente quanto ao futuro iminente, e os trabalhos diários quanto a o que nos prepara o dia seguinte, e como será possível evitar uma catástrofe global, absorviam toda a minha atenção”.
Após a revolução, os bailes e todo o patrimônio da antiga Rússia foram relegados ao passado, mas o século 20 herdou um mito poético sobre o “baile russo”, transformando-o em arte, em imagens no cinema, na música e no palco do teatro.
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