Esquecida no país por um longo período, comida tradicional começa a reconquistar seu espaço Foto: Dmítri Saparov
A primeira menção da culinária nacional russa data do século 10. Seu autor é o historiador, astrônomo e geógrafo árabe Ibn Rust.
Os eslavos do leste, segundo Rust, alimentavam-se exclusivamente do leite de égua.
No auge da Guerra Fria, uma famosa publicação culinária europeia indicava que a sopa russa “okrochka” é feita de uma mistura de cerveja e vodca e o Borscht russo é necessariamente servido à mesa em estado de podridão.
A cortina de ferro desabou e revelou para o mundo mais uma imagem da dita culinária russa, montanhas de caviar preto, sem o qual não se realizava nenhum almoço ao "estilo russo".
Os cozinheiros que tinham saído da Rússia para a Europa ou para a América procuravam mostrar não a genuína cozinha russa e sim aquela que esperavam deles os estrangeiros que tinham tomado conhecimento daquele país distante e repleto de neve através do filme "Doutor Jivago".
A Gazeta Russa compilou algumas das características da verdadeira cozinha russa.
Fogão
O severo clima russo não ajuda a agricultura durante a maior parte do ano. Mas, em compensação, a Rússia sempre teve recursos florestais suficientes. As florestas decíduas na zona temperada e a taiga de coníferas, na região norte, garantem aos russos combustível suficiente para o uso no dia a dia da modalidade nacional de lareira –o fogão russo.
Na linguagem técnica moderna, o fogão russo tem um coeficiente de eficiência muito baixo, não superior a 30%.
Para elevar a temperatura no interior de um forno tão grande para pode assar um pão, é necessário pelo menos uma dezena de toras, quase uma pequena árvore. Mas, em compensação, aquecendo bem o forno, é possível preparar ao mesmo tempo vários pratos que exigem um aquecimento prolongado e cozinhar pão e tortas para uma grande família.
Foi exatamente esse lento resfriamento –quando mesmo após transcorridas de 8 a 12 horas depois do aquecimento do forno, conserva-se o calor no interior do fogão– que ajudou os russos a criar uma cozinha nacional própria.
Sopa de repolho e cereais cozidos
Acima de tudo, esses são pratos que exigem longas horas de fogo brando, a uma temperatura de 80° C a 200° C. Entre eles, durante séculos, os mais populares e apreciados foram os muitos tipos de sopas e os cereais cozidos e quentes, preferências ainda hoje de muitas famílias.
O tradicional almoço da família de um camponês era uma tigela de sopa e uma tigela de cereais bem cozidos e soltinhos, que poderiam ser trigo-sarraceno, milho, centeio ou trigo comum.
Conservas
A salga tradicional de vegetais e cogumelos com a utilização da fermentação do ácido lático natural, também chamada de “kvashenie”, é uma parte importante da cozinha russa. E a salmoura que sobrava das conservas de repolho e de pepinos desempenhava antigamente o mesmo papel que o molho de soja nos países do sudeste da Ásia.
Das conservas, além das sopas, também são preparados os assim chamados “pratos rassolniy”, “solhianka”, “rassolniki”, “kaliy”. Um dos viajantes medievais, o cientista alemão Adam Olearius, viajando pela “Moscovia” (nome antigo do Estado russo), destacou a “pohmelka”, carne frita de carneiro, em salmoura.
Peixe e caviar preto
Entre os principais produtos da Rússia não se pode deixar de citar os peixes de água doce, das mais diversas variedades e que sempre foram abundantes no país. No Domostroi, monumento literário dos séculos 16 e 17, existe a menção de uma dezena de métodos de salgar o peixe –no barril, em filés, incluindo a secagem ao sol, entre outros.
Foto: Lori/LegionMedia
E sim, claro, o famoso caviar preto russo.
Tortas especiais, só conhecidas na Rússia, também são assadas com recheio de peixe – “kulebyaks”, “rybniki”, “rasstegai”.
Tortas e panquecas (blini)
Tortas e outros produtos de massa são o cartão de visitas de nossa culinária. São incontáveis as variedades de recheios, tipos de massa e das próprias tortas. Abertas, fechadas, roscas, biscoitos, sem fermento e azedas, doces e salgadas, feitas com salmoura.
A festa Maslenitsa, realizada antes da Quaresma, não passa sem panquecas.
Mas os “blíni” não são só preparados na Maslenitsa. Após o Natal, os dias festivos chamados “Sviatki” também são chamados de “ovsianitsi” pois em alguns lugares são preparadas panquecas de aveia.
Onde saborear
A Rússia é um país multiétnico, e sua culinária coexiste pacificamente há séculos com a gastronomia nacional de outros povos. Alguns pratos hoje considerados inteiramente russos vieram dos nossos dos vizinhos: os “pelmenie” fino-húngaros, o macarrão dos turcos etc.
Da mesma forma, a culinária popular de todas as nacionalidades que habitam a Rússia se enriqueceu à custa dos pratos verdadeiramente russos.
Infelizmente, na Rússia de hoje, é difícil encontrar uma comida realmente russa no menu dos restaurantes.
Provavelmente vão servir-lhe uma imitação –é possível que seja gostosa, mas longe de ser autêntica.
Mas a situação está mudando. Com maior frequência estão surgindo os verdadeiros fogões russos nos restaurantes provincianos e os chefs jovens estão empenhados não em surpreender com a “riqueza” dos pratos, mas sim em conservar a autenticidade do preparo.
Os agricultores começaram a cultivar os quase esquecidos trigo-vermelho e os nabos e os pratos feitos com esses produtos russos antiquíssimos elaborados com mãos hábeis fazem famosas as casas moscovitas como a Fazenda de Café Lavkalavka.
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