Cena do filme "Atomic Ivan", do jovem cineasta Vassíli Barkhatov Foto: kinopoisk.ru
Na noite deste domingo (26), o filme russo “Atomic Ivan” foi o grande vencedor do 3º Uranium Film Festival na categoria melhor longa-metragem do “Oscar Amarelo”, a premiação máxima do concurso. O circuito internacional de obras sobre energia nuclear acontecia no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro desde o dia 16.
Primeiro filme do jovem e talentoso cineasta Vassíli Barkhatov, a comédia romântica “Atomic Ivan” arrancou aplausos e muitas gargalhadas do público, que pode conferir o trailer antes da entrega do prêmio.
A história simples, que narra o romance entre um jovem cientista e sua namorada, assim como a busca do personagem principal por autoconhecimento, tem como pano de fundo uma usina nuclear.
O diretor da usina convida um grupo de artistas a desenvolver uma peça de teatro junto com trabalhadores. A partir daí, as instalações nucleares se tornam instigantes locações nas mãos de Barkhatov. O filme foi rodado em duas usinas russas e foi a primeira vez que as instalações nucleares do país abriram suas portas para cineastas.
Embora seja um renomado diretor de ópera, Barkhatov se aventurou pela primeira vez no cinema. Para ele, era importante mostrar os perigos e os limites das usinas nucleares por um outro ângulo que não aquele que conhecera quando menino, beirando à histeria. “Queria evitar a triste história desse setor e falar mais sobre pessoas ligadas a ele”, acrescenta.
Ao lado do escritor alemão Norbert Suchanek, a diretora-executiva e cofundadora do festival Márcia Oliveira destacou a escolha do júri, que este ano assistiu 150 filmes para selecionar os melhores da mostra. “Dificilmente se vê a questão nuclear abordada em forma de ficção. ‘Atomic Ivan’ faz isso de forma incrível.”
Além do russo, foram premiados o curta-metragem indiano “High Power”, do cineasta Pradeep Indukar, e o filme de animação alemão “Abita – Crianças de Fukushima”, dos diretores Shoko Hara e Paulo Brenner.
“Filmagem causou mais impacto que a visita do presidente”
A produtora do filme, Viktoria Gromik, veio ao Brasil receber a premiação em nome do cineasta. Gromik agradeceu o reconhecimento do público brasileiro e falou sobre a importância de se discutir sobre energia nuclear na atualidade. “A energia nuclear e a radioatividade se tornaram parte do nosso mundo. Temos que garantir a segurança nessa área”, alertou a produtora ao receber o troféu, uma obra do artista plástico brasileiro Getúlio Damado.
Em entrevista exclusiva à Gazeta Russa, Gromik revelou passagens curiosas da filmagem e contou que a escolha do filme e a premiação foram recebidas com surpresa pelos realizadores.
Gazeta Russa: Como vocês receberam a notícia da boa recepção do filme e que ele seria agraciado com o prêmio principal?
Viktoria Gromik: Ficamos impressionados. Escrevi a todos contando que ganhamos e eles ficaram todos muito impressionados. É um prêmio muito importante para nós. Foi realmente uma surpresa. Quando começamos a rodar o filme não nos passava pela cabeça que pudéssemos ganhar um prêmio do outro lado do mundo.
GR: Como surgiu a ideia de fazer um filme com essa temática?
VG: Na verdade, resolvemos fazer um filme sobre cientistas, que é um tema muito importante para nós, pois eles são capazes de grandes acontecimentos. E isso acabou levando à energia nuclear, que é um assunto de grande importância na Rússia, como no mundo inteiro. Não podemos ver o átomo, mas podemos dizer, sem dúvida, que muita coisa acontece em função dessa energia que ele produz.
GR: Imagino que essa temática seja mais presente na vida das pessoas na Rússia do que no Brasil, mas mesmo lá é comum filmes sobre esse tema ou é um caminho novo que está sendo trilhado?
VG: Nosso objetivo é fazer filmes para o público jovem, e a ideia é criar filmes que sejam simples. O filme abrange diversos assuntos, e não apenas a energia nuclear. Para nós é muito importante a simplicidade ao falarmos sobre ideias sérias. O filme é uma comédia, e a abordagem é simples em função do público-alvo, os jovens. É muito importante poder se falar de coisas sérias com um sorriso.
GR: E como é possível abordar assuntos sérios sem abrir mão do humor?
VG: O personagem principal do filme entra em um processo de autoconhecimento. Ele vem de uma família de trabalhadores dessa indústria. No início ele não entende a importância de se tornar um verdadeiro cientista, mas, ao final desse processo de autoconhecimento, ele compreende que seu verdadeiro caminho é a ciência.
GR: Você poderia destacar um momento marcante, tanto uma dificuldade como algo gratificante, no decorrer das filmagens?
VG: Algo marcante é que o filme foi rodado dentro de verdadeiras usinas nucleares, e é muito difícil ter acesso a esses lugares. Uma dificuldade é que tínhamos doze horas de filmagens por dia, mas gastávamos quatro horas apenas para nos deslocarmos e chegarmos às locações. E teve um episódio em que chegamos ao prédio de uma usina nuclear e os trabalhadores pararam de trabalhar para assistir às gravações. As pessoas contaram que nem quando o presidente da Rússia visitou a usina os trabalhadores pararam de trabalhar. Nesse dia, disseram que todo mundo queria saber o que estava acontecendo de tão importante. No final, a filmagem acabou causando mais impacto do que a visita do presidente (risos).
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