Fábrica Obukhov integra atualmente o consórcio Almaz-Antey
PhotoXpressA Fábrica Obukhov foi um dos primeiros e, por muito tempo, o mais bem-sucedido exemplo de uma grande empresa de capital privado em território russo. Na segunda metade do século 19, contava-se nos dedos o número de fábricas de grande porte – e todas eram estatais.
O Estado, porém, não conseguia garantir as taxas de crescimento necessárias para a produção industrial, das quais dependiam as perspectivas da economia russa e a capacidade de combate do Exército.
Quando, em 1863, os metalúrgicos Nikolai Putilov e Pável Obukhov propuseram ao Ministério da Marinha criar, nos arredores de São Petersburgo, uma fábrica que fornecesse à frota armas de artilharia estriadas, a ideia foi recebida com entusiasmo.
Putilov entrou com o capital para o negócio, enquanto Obukhov, com a patente de um aço fundido único que ele tinha inventado quando ainda trabalhava na fábrica de armas de Zlatoust.
As metas eram ambiciosas: criar, em cinco anos e a partir do zero, uma produção plena e fornecer ao Estado armas no montante de um milhão de rublos. Os trabalhos começaram quase que imediatamente. O projeto previa a construção de uma das maiores fábricas do país em um terreno pantanoso.
Antes de iniciar a atividade, os camponeses das aldeias vizinhas passaram por treinos de formação na indústria siderúrgica. Um ano mais tarde, a empresa, que rapidamente ficou conhecida como Fábrica Obukhov, concluiu sua primeira produção.
Interior de oficina da Fábrica Obukhov na década de 1860 Foto: RIA Nôvosti
Os custos ultrapassaram todas as previsões, e os proprietários tiveram que recorrer a ajuda estatal. Com um reforço substancial, a fábrica se manteve, no início da década de 1870, em pé de igualdade com os maiores fabricantes mundiais de artilharia.
Primeira em muitas
Pela primeira vez na Rússia, a produção de aço era feita com uma base científica séria. Um dos maiores metalurgistas da época, Dmítri Tchernov teve papel de destaque no projeto. Sob a sua liderança, o processo de produção de aço passou a ser vinculado a um algoritmo exato, possibilitando inovações.
A fábrica Obukhov foi também a primeira nacional a instalar fornos Siemens-Martin. Em 1872 saíram dali os primeiros canhões navais de 305 milímetros da Rússia, cujo monopólio de produção pertencia até então a empresa alemã Krupp.
Na década de 1880 foi a vez de um novo tipo de arma para a época: o torpedo. Mas, além deles, a fábrica produziu motores para os primeiros protótipos de avião do mundo, placas blindadas para embarcações de guerra, granadas de artilharia, binóculos e uma ampla gama de produtos civis.
O Estado mostrou mais do que uma vez dar grande valor ao mérito da Fábrica Obukhov: ela foi uma das poucas empresas que obtiveram o direito a colocar nos seus produtos a águia bicéfala – o brasão oficial do Império Russo. Em 1908, por ordem do tsar, a fábrica passou a ter a sua própria bandeira.
Nas exposições mundiais de Paris, Filadélfia e Viena a produção da Obukhov era regularmente objeto de altas avaliações. Havia concorrência acirrada com as gigantes mundiais de armamento, como a francesa Creusot, a alemã Krupp e a britânica Armstrong. Mas, no mercado russo, a Obukhov não tinha páreo.
Privado, público, privado
Em 1913, mais de metade das armas das forças terrestres e mais de 90% das armas da Marinha de guerra tinham o selo da Obukhov. A empresa se tornou objeto estratégico e, em 1886, foi nacionalizada.
Durante o regime soviético, ganhou novo nome e perfil. Agora chamada Bolchevique, passou a produzir tratores, motores de aeronaves, vagões e árvores de manivelas para usinas hidrelétricas em construção. O nome da cidade também mudou de São Petersburgo para Petrogrado.
A partir de 1920, a fábrica foi gradualmente dominando a produção de armas da nova era – os tanques. Foi da Fábrica Obukhov que saiu o primeiro tanque soviético T-18.
Os engenheiros da fábrica formaram um departamento de projetos à parte. Assim, as armas da Obukhov aumentaram a força do Exército soviético às vésperas da Grande Guerra Patriótica. Mesmo quando a cidade foi sitiada pelos alemães – e mais uma vez renomeada como Leningrado –, a produção não parou. De suas esteiras saíam milhares de projéteis e minas.
Canhões produzidos na Obukhov durante a Grade Guerra Patriótica, em 1945 Foto: Maksimov/RIA Nôvosti
Depois da guerra, a fábrica viveu uma época de glória. No final dos anos 1980, comportava mais de 17 mil funcionários, empenhados no desenvolvimento e na produção de uma vasta gama de produtos para a Marinha, unidades de mísseis nucleares e forças espaciais.
O colapso da União Soviética e a crise da década de 1990 derrubou a produção em quase 30 vezes. As mudanças vieram apenas no início do século 21. Um decreto assinado por Pútin, em 2002, tornou a fábrica parte do consórcio Almaz-Antey.
Hoje os principais artigos da Fábrica Obukhov são sistemas de mísseis antiaéreos, como o famigerado S-300, o novo S-400 e o futuro S-500, que por enquanto existe apenas em desenho.
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