Uma frente de nações contra o EI?

Ilustração: Natália Mikhailenko

Ilustração: Natália Mikhailenko

Tanto os EUA quanto a Rússia devem levar em conta a ameaça imposta pelo Estado Islâmico em suas estratégias de política externa de longo prazo. E há sinais de que isso já esteja acontecendo.

O chanceler russo Serguêi Lavrov anunciou recentemente o apoio da Rússia à iniciativa francesa de realizar uma conferência internacional sobre o Iraque, bem como apoio a todas as resoluções da ONU autorizando os EUA a realizar ataques aéreos no Oriente Médio e no Norte da África.

O Estado Islâmico (EI), antes chamado de Estado Islâmico do Iraque e do Levante, surgiu a partir da organização terrorista Al-Qaeda, no Oriente Médio, e controla atualmente 30% do território sírio, assim como algumas áreas do território iraquiano. Ao todo, o território que o EI ocupa é do tamanho da Bélgica, e o grupo possui até 90 mil membros ativos em unidades armadas.

Apesar de alguns especialistas opinarem que a ameaça imposta pelo grupo é superestimada, o Estado Islâmico já intimida tanto os Estados Unidos como a Rússia.

Os EUA já começaram a bombardear as posição do EI, mas a iniciativa não vai resolver o problema sozinha.As autoridades americanas também pretendem convocar a coalizão internacional que estão criando, incluindo alguns Estados no Oriente Médio, para enfraquecer ou eliminar essa ameaça terrorista - o que significa, provavelmente, delegar operações terrestres para parceiros do grupo. Isso poderá, contudo, causar enormes perdas. 

A operação dos EUA contra o EI terá longa duração – de alguns meses a, possivelmente, até um ano. E a colaboração entre os EUA e a Rússia será essencial para essa operação. 

No momento, os dois países não conseguem chegar a um consenso na questão da Síria. Enquanto os EUA estão constantemente acusando a Rússia de apoiar o regime de Bashar al-Assad, a Rússia alega que o apoio oferecido pelos americanos aos grupos de oposição para combater o EI esconde, na verdade, a intenção de derrubar o regime de Bashar. Ambos os lados devem se concentrar, no entanto, em encontrar formas concretas de cooperarem no combate ao EI.

Os Estados Unidos não podem deixar de responder à ameaça representada pelo EI. Os vídeos com decapitações de americanos, junto com os saques perto da Embaixada dos EUA em Bagdá em meados do ano, foram uma espécie de insulto para os americanos. 

De acordo com informações divulgadas na imprensa, 61% dos norte-americanos apoiam a decisão de Obama de realizar uma operação militar no Iraque e na Síria. Mas o apetite do público por outra guerra prolongada no Oriente Médio não deve ser exagerado. Além disso, qualquer grande operação militar vai exigir um financiamento significativo, que o Congresso norte-americano pode não estar pronto a aprovar. 

Os militantes do EI são uma ameaça não só para os EUA, mas também para a Rússia. Os extremistas já ameaçaram “libertar a Tchetchênia” e iniciar uma guerra no Cáucaso do Norte. Também estão envolvendo ativamente usuários de grandes redes sociais russas, incluindo a mais popular delas, o VKontakte, para promover suas ideias. 

Os líderes do grupo parecem ter levado a sério as lições do papel da internet na organização de ativistas durante a Primavera Árabe, que, entre 2011 e 2013, levou à derrubada de vários regimes no Oriente Médio e no Norte da África, incluindo Egito, Tunísia, Iêmen e Líbia.


Vladímir Sôtnikov é pesquisador no Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia.

 

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