“Não senti qualquer isolamento”, diz Lavrov sobre Assembleia da ONU

O chanceler russo Serguêi Lavrov teve grande participação no evento e tomou parte em mais de 50 iniciativas no quadro da sessãoFoto: Reuters

O chanceler russo Serguêi Lavrov teve grande participação no evento e tomou parte em mais de 50 iniciativas no quadro da sessãoFoto: Reuters

Apesar das tentativas de isolamento internacional da Rússia, a agenda do chanceler russo Serguêi Lavrov durante a sessão da Assembleia Geral da ONU esteve repleta de compromissos. O chefe da diplomacia russa expôs os seus pontos de vista sobre a situação no Oriente Médio e na Ucrânia, assim como respondeu às acusações do presidente Barack Obama.

A 69ª sessão da Assembleia Geral da ONU, que chegou ao fim nesta terça-feira (30), foi marcada por apelos e sugestões para acabar com as ações dos combatentes do Estado Islâmico. Em seu discurso, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exortou para que todos lutassem mais ativamente contra as violações dos direitos humanos, porque, segundo ele, “o último ano foi terrível, considerando os princípios da ONU”.

O chanceler russo Serguêi Lavrov também teve grande participação no evento e tomou parte em mais de 50 iniciativas no quadro da sessão. Além disso, participou de mais de 30 reuniões bilaterais. “Não senti qualquer isolamento; pelo contrário: o número de colegas que quiseram falar comigo foi maior do que habitualmente”, afirmou o diplomata aos jornalistas.

Fato é que nenhuma questão de importante internacional foi discutida sem a Rússia. Também não se ouviram muitas críticas a Moscou, exceto durante o discurso de 45 minutos do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

Lavrov, no entanto, respondeu a Obama na própria tribuna da Assembleia Geral. “Washington declarou abertamente que tem o direito de empregar força militar unilateralmente e em qualquer lugar em defesa de seus próprios interesses. Na política norte-americana, a intervenção militar se tornou norma. E isso apesar de todas as operações militares que os EUA levaram a cabo nos últimos anos terem fracassado”, rebateu o ministro russo.

“Para falar a verdade, esperávamos muitas mais críticas”, confessou uma fonte da delegação russa à Gazeta Russa. “Estamos satisfeitos porque, apesar de tentativas de certos países de imporem suas visões a terceiros, a Assembleia Geral não abandonou a linha de respostas coletivas para problemas globais e regionais.”

Exemplo americano

Em diversas intervenções durante a reunião de Nova York, Lavrov ressaltou que os problemas que chamam a atenção da comunidade internacional são de natureza sistêmica e “decorrem da vontade de lutar contra os sintomas da doença, e não contra suas causas”.

O ministro russo lembrou que, em 1933, Washington exigiu, como condição para estabelecimento de relações diplomáticas, que a União Soviética desse garantias de não se imiscuir nos assuntos internos dos EUA e prometesse que nada faria para alterar a situação política e social norte-americana. Na época, as garantias foram dadas com base na reciprocidade.

Segundo Lavrov, diante dos últimos acontecimentos, seria sensato ressuscitar aquela exigência do governo americano. “Por que é que a Assembleia Geral não emite uma declaração sobre o impedimento das ingerências nos assuntos internos de Estados soberanos e o não reconhecimento de golpes de estado como métodos de alteração do poder?”, propôs.

“A crise ucraniana se tornou um reflexo dos problemas que se foram acumulando no espaço euro-americano, problemas que estão há anos por resolver”, acrescentou o chanceler, acrescentando que a Rússia está disposta a colaborar com o Ocidente desde que ambos sigam no mesmo sentido.

Direito de veto

No âmbito da Assembleia, aconteceu também um encontro de alto nível para discutir questões ligadas ao direito de veto no Conselho de Segurança da ONU. A França defendeu que os membros permanentes se abstivessem de recorrer a esse direito perante casos de violação maciça dos direitos humanos e genocídio, entre outros.

A Rússia voltou a declarar que as prerrogativas dos membros permanentes, entre as quais o direito de veto, não devem estar sujeitas a revisão. “Quando nossos parceiros ocidentais estão vetando e bloqueando resoluções sobre ajuda humanitária, que posição deveremos adotar? Por que é que nesse caso não se impede o recurso ao direito de veto?”, explicou à Gazeta Russa Guennádi Gatilov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros.

 

“Quando a gente propõe o fim imediato das operações militares na Ucrânia, tal iniciativa é igualmente vetada pelos nossos parceiros ocidentais. Resumindo, a abdicação do direito de veto não se pode verificar apenas em relação a violações maciças dos direitos humanos. Existem outros problemas importantes em relação aos quais os membros permanentes do Conselho de Segurança deveriam abrir mão de seu direito de veto”, arrematou Gatilov.

 

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