Ekaterina Genieva é considerada a maior reformadora cultural da atualidade na Rússia/ Foto: Photoxpress
Depois de mais de um ano e meio de planejamentos, a diretora da Biblioteca Estatal Russa de Literatura Estrangeira, Ekaterina Genieva, enfim colocou em prática seus planos para o 1º Congresso Internacional de Tradutores em Moscou, que aconteceu no início deste mês. O evento é fruto de um antigo sonho de Genieva de reunir os profissionais que carregam a responsabilidade de traduzir para diversas línguas os grandes nomes da literatura russa.
A cargo da diretoria da biblioteca há 17 anos, ela passou quase quatro décadas na instituição e não tem medo de assuntos polêmicos. Na época da dura repressão da KGB, por exemplo, Genieva colocou a gráfica da biblioteca à disposição de jornais que foram proibidos de serem publicados durante a tentativa de golpe de 1991. Mais recentemente, seu trabalho no Instituto Sociedade Aberta (Fundo George Soros) e suas constantes exposições sobre anti-semitismo e cultura hebraica não lhe pouparam problemas.
“A Biblioteca de Literatura Estrangeira e, principalmente, Genieva fizeram um enorme trabalho em prol da cultura. Então é muito bom saber que é ela quem organiza o congresso”, disse o escritor russo Evgueni Popov.
Convidados pela diretora, representantes de mais de 25 países, entre eles Brasil, Estados Unidos, Itália, França, Grã-Bretanha, Portugal e Japão participaram do evento. Além das discussões acerca de problemas relativos à tradução, outra ideia de Genieva para o congresso foi a leitura de escritores contemporâneos russos aclamados, como Ludmila Ulitskaya, Tatiana Tolstaia, Evgueni Popov e Slavnikov, confrontada em seguida com o trabalho de tradutores sobre sua obra.
Para o futuro, Genieva planeja também a criação de um instituto de tradução na Rússia. Segundo ela, a iniciativa não apenas despertaria nos novos tradutores interesse pela língua russa, mas também seria "um sistema de preparação de eslavistas que estarão aptos a escolher, ler, traduzir e apresentar novas obras”.
A tradutora brasileira Arlete Cavaliere, que participou do congresso, apoia a iniciativa de melhorar a técnica da tradução com formação literária. “Para ser tradutor de literatura é necessário conhecer a teoria literária e ter no mínimo quatro anos de estudo de russo”, defende ela, que coordena o curso do idioma na Universidade de São Paulo (USP).
No Brasil, a primeira escola de ensino superior de russo foi fundada apenas nos anos 1960, na USP, por iniciativa de um emigrante ucraniano, Boris Schnaiderman. Até então, as traduções da língua russa eram feitas quase todas a partir de material já traduzido para o inglês ou francês, o que comprometia muito do sentido e da forma do texto. "Boris Schnaiderman já pode se gabar de duas gerações de seguidores que se têm destacado na tradução no país”, diz Cavaliere.
A nova instituição também serviria para fomentar a viagem acadêmica de estrangeiros para a Rússia, já que muitos não conhecem o país. “A ideia de que vivemos num mundo globalizado, numa aldeia global, mostra-se ainda mais legítima durante nossa preparação para o congresso. Sim, você pode descobrir o mundo em um segundo, pode telefonar para todo mundo, mandar e-mails, mas como nossos tradutores ficam contentes em saber que terão a primeira chance de se verem cara a cara”, diz Genieva.
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