A Bachquíria e o melhor mel do mundo

O mel silvestre, produzido por abelhas melíferas selvagens, é o mais caro do mundo, podendo custar até € 200 o quilo Foto: RIA Nóvosti

O mel silvestre, produzido por abelhas melíferas selvagens, é o mais caro do mundo, podendo custar até € 200 o quilo Foto: RIA Nóvosti

Apicultura florestal começou a se extinguir com a construção das colmeias e o advento dos apiários, mas houve um tempo em que essa era a única forma de obtenção de mel.

A Bachquíria é hoje um dos últimos lugares no planeta onde a apicultura florestal se mantém como um ofício.

A prática começou a se extinguir com a construção das colmeias e o advento dos apiários, mas houve um tempo em que essa era a única forma de obtenção de mel.

O mel silvestre, produzido por abelhas melíferas selvagens, é o mais caro do mundo, podendo custar até € 200 o quilo.

Para entender a prática, é preciso explicar primeiro o significado da palavra “bortevoi” (silvestre). “Borth”, em russo, é o nome dado ao oco de uma árvore, onde vivem as abelhas silvestres. O orifício pode ser natural ou feito manualmente, mas as abelhas somente podem ser silvestres e silvícolas.

Na Bachqíria, foi criada a reserva Shulgan-Tash para a preservação das abelhas silvestres “Burzianskiy”. Junto com as abelhas, ficou sob proteção a antiga profissão de “bortnik” ou “bortevik”.

Um verdadeiro “bortevik” é um tesouro de conhecimento e habilidades. Ele sabe se o ano está sendo bom para as abelhas, o que está faltando para elas, se está na hora de coletar o mel e quanto dele pode ser coletado.

Os “borteviks” não destroem os ocos das árvores, coletando uma quantidade certa de mel para que sobre o suficiente para as abelhas passarem o inverno. E tentam intervir minimamente no mecanismo nitidamente organizado da vida das abelhas –o que deixa o mel melhor.

Como a ação se passa em uma floresta, o “bortevik” deve possuir habilidades de caçador e ser capaz de interpretar pegadas no chão: martas e ursos são conhecidos fãs do mel. O perigo de se deparar com um urso existe ainda hoje: os “borths” ficam em territórios protegidos, onde os animais selvagens se sentem à vontade.

A reserva de Shulgan Tash está situada no lado sul do sopé dos Urais e o seu relevo montanhoso a protege da exploração industrial de suas florestas.

“Sempre nos certificamos se a ameaça de urso é real”, diz um “bortevik” que diz ter assimilado os conhecimentos de seu pai, o primeiro “bortevik” da reserva, e agora os passa para seu filho.

“Se o urso encontrar uma árvore oca com mel, ele não irá sossegar enquanto não conseguir pegá-lo. Somos obrigados a fazer algo a respeito. Conseguir uma licença de caça é muito difícil, então colocamos armadilhas. É claro que dá pena deles. Mas o que fazer, se temos que escolher entre um urso e uma colônia inteira de abelhas? Afinal, o urso destrói totalmente uma colmeia e todas as abelhas morrem.”

O gosto da liberdade

A principal diferença entre o mel proveniente da apicultura florestal e o da apicultura de apiário é que o ser humano não interfere na produção do mel silvestre. Como se sabe, o mel é o produto da digestão do néctar no organismo das abelhas melíferas. Todas as abelhas do mundo fazem isso da mesma forma. Mas depois desse processo, os caminhos das abelhas silvestres e das abelhas domesticadas divergem.

No apiário, a vida das abelhas é gerenciada pelo homem, cujo objetivo é coletar, durante a temporada, o máximo possível de mel de cada colônia de abelhas.

Algumas vezes por ano, de maneira monótona, as abelhas domesticadas preenchem o quadro na colmeia, como uma produção em linha de montagem.

Entretanto, as abelhas silvestres não se são submetidas a nenhuma pressão. Elas escolhem um lugar para a própria "casa" e constroem elas mesmas os favos de materiais acessórios naturais.

Isso leva um tempo maior, mas resulta em um mel não apenas natural, mas literalmente recheado de enzimas úteis, vitaminas, aminoácidos e até hormônios. No mel silvestre também há mais cera e pólen do que no mel produzido no apiário.

Além disso, o mel silvestre é colhido apenas uma vez por ano, no início de setembro, quando realmente está no ponto. É messa época que elas vedam os favos de mel para passar o inverno.

“Este ano foi ruim, seco, e também com muitas pragas”, comenta Michael Kosarev, diretor da reserva Shulgan-Tash, que no passado também fez muitas coletas nos “borths”.

“Então tivemos que alimentar alguns ‘borths’ para que as abelhas não morressem. Com essa finalidade, adaptávamos, pelo lado de dentro ou por fora, um recipiente com xarope de açúcar.”

Os bens imóveis das abelhas

Abelha selvagem é uma criatura voluntariosa, é impossível colocá-la à força no oco da árvore. O homem pode apenas ajudá-la um pouco na escolha, tornando um “borth” o mais atraente dos arredores.

“Era toda uma cultura”, lembra Kosarev. “Primeiro, meu avô escolhia uma velha árvore de 150 anos, grossa e resistente, cortava a ponta e marcava com a tamga, um símbolo da família. Isso significava que a árvore estava ocupada. Depois esperavam por mais 50 a 70 anos, quando então vinha o neto e preparava o ‘borth’. Depois, mais alguns anos de espera aguardando secar.”

Foto: ITAR-TASS

Agora, essa cultura está quase completamente perdida. Por isso, são utilizados ocos antigos ou os “ocos” são feitos manualmente, em pedaços de toras –decks nos quais as abelhas ficam até melhor, como em uma casa com todas as comodidades.

Os “borths” da Bachquíria estão espalhados ao longo do vasto território do Parque Nacional Bachquíria, da reserva natural Shulgan-Tash e do santuário Altyn Solok (Borth de ouro), a alguns quilômetros de distância um do outro.

A maior quantidade está em Shulgan-Tash: são cerca de 400 “borths” para 220 km² de reserva, mas as abelhas vivem em apenas 200 deles. A concentração é de dois “borths” por quilômetro quadrado. É claro que não é fácil aos apicultores trabalharem nessas condições, mas há também pontos positivos: a distância protege as abelhas não só dos ladrões, mas também das doenças infecciosas.

Mais caro do mundo

Todas essas atribulações têm a finalidade de coletar o mel. Em certo sentido, isso é a apoteose do trabalho de um “bortevik”. Em um dia, é possível coletar de 15 kg a 25 kg de mel. O mel silvestre pode ser armazenado por muito tempo e quanto mais distante do ponto de coleta ele é vendido, mais alto o seu preço. Atualmente, o mel silvestre bachquírio é o mais caro do mundo.

Nas lojas da reserva ou na vila Starosubkhangulovo, perto do santuário Altyn Solok, o quilo sai por € 50. Em Moscou, os preços assustam como as abelhas selvagens: de € 120 a até € 200 por quilo.

Tours

Desde 2013, a reserva organiza "tours de mel”: uma pessoa pode vir até a floresta para ver como trabalha um “bortevik”, coletar independentemente o seu mel e acondicioná-lo em potes.

O custo de um quilograma de “mel do tour” é superior a € 60, mas esse preço inclui o transporte até o local, além do guia e da alimentação. E o mais importante, a possibilidade de ver com os próprios olhos o antigo ofício que contribuiu para a sobrevivência de várias gerações de “bachquírios”. Não é à toa que no folclore burzianskiy, o papel de tolo sempre foi de quem tivesse muito gado e poucos “borths”.

Para reservar um “Tour de Mel”:

Tel.: +7 (34755) 3-35-41

Fax: +7 (34755) 3-37-21

Endereço: 453585, RB, distrito de Burzianski, Vila Irgizli , Rua Zapovednaiya, 14

E-mail: mec.kapova@mail.ru

 

Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies